Papisa Joana

 “As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha.” Essa frase foi dita por Adolf Hitler 12 séculos depois de uma das maiores mentiras que a história já viveu. O que se passou na chamada Era das Trevas é até hoje vista com maus olhos, principalmente por aquela caiu inocentemente nesta grande mentira, a Igreja.

Diz a Bíblia que, quando Deus mudava o nome de alguém, é porque lhe dava uma função especial. Abrão passou a ser Abrãao (Gn 17,5). Depois de Jesus, Simão passou a ser Pedro (Mateus 16.19).  Na Idade Média, cada monarca mudava e escolhia um nome ao tomar o trono da coroa. Na tradição cristã, o Padre muda de nome quando assume a função de pontífice.

Contudo, nunca foi tradição que o trono de Pedro fosse ocupada por uma mulher. Esta é a razão pelo qual até hoje a Igreja não assume a existência do Papa João VIII, que cumpriu um curto mandato de menos de três anos, entre o papado de Leão IV e Bento III.

Ocorre que, nascida da Era das Trevas, onde mulher era a simbologia do pecado (além de inútil e sem conhecimento de nada), o Papa João VIII foi na verdade, uma mulher – cujo nome de batismo era Joana. Nascida em 841 na  Alemanha, gostava de estudar e, para ter acesso aos livros, se fez passar por um homem adotando o nome de Johannes Anglicus. Internou-se em um monastério, foi monge, formou-se em teologia, filosofia e aprendeu todos os segredos da cura do corpo, ficando conhecida por seu talento como médica. Por isso foi chamada para tratar da saúde do Papa Leão IV, que se encontrava bastante doente.  Ali, com a sua sabedoria, ganhou prestígio e respeito entre os ilustres dignitários da Igreja. Foi nomeada “Secretário da Cúria” e, em seguida, Cardeal.

papisa joana

Capa do livro sobre a Papisa de Donna Woolfolk Cross

Em 855, com a morte do Papa Leão IV, foi aclamada Papa, com o nome de João VIII. Joana praticou o que pregou, em um papado justo e caridoso de pouca exibição – até mesmo para não expor a sua condição de mulher. A Igreja em uma vã tentativa de fazer Joana sumir da história, fez com que seu sucessor assumisse o nome de João VIII.  Assim, desconsideraram o seu papado de dois anos e alguns meses e fizeram suceder a Leão IV o Papa Bento III, nomeando ainda, em 872, outro Papa com o mesmo nome que havia sido adotado pela Papisa, João VIII. Todavia, a justiça de João é duradoura em relação à Igreja e, em 1276, o papa João XX mudou seu nome para João XXI, reconhecendo enfim que no passado existiram dois “Joãos” VIII. Um deles fez justiça à Joana.

É possível entender a dificuldade da Igreja em assumir esta mulher vitoriosa, de garra e grosso calibre. Basta recapitular todo o comportamento histórico da Igreja Católica, que vai desde os conchavos com monarcas até a santa inquisição, esquecendo seu comportamento da história recente de pedofilia e orgias. Porém, muitos são os documentos históricos que comprovam a existência de Joana. É verdade que Joana foi desmascarada por ter abortado durante uma festividade. Isso a torna menos merecedora do papado que conquistou? Evidente que não. Joana mostrou que foi uma mulher como outra qualquer, que ama, é inteligente, tem fé, tem sede de conhecimentos e chegou ao apogeu, ao trono papal quando não sabiam que era mulher. Após a morte da Papisa, em 857, todo papa somente era assim consagrado, quando sentava em uma cadeira com um buraco no assento. A santa criatura ali sentava, sendo molestado em sua genitália por exame de toque, tal qual a mulher parindo, com a diferença que a genitália dele deveria ser sacudida e espremida pelo buraco da cadeira. Era quando anunciavam HABEMUS PAPAM.

Quem duvida, vá até Roma, conhecer a cadeira. No Vaticano foi usada até o século XIX, quando esta manipulação foi considerada excessiva e pararam com este ato.  O papado de João VIII foi anulado dois anos depois e seu nome foi extinto do Liber Pontificalis – um livro de crônicas de todos os papas. Mas basta pesquisar que se descobre sobre a existência da Papisa Joana, mesmo que sua passagem tenha sido ‘esquecida’ pela Igreja Católica.

About Nubia Dutra

Nubia Dutra é psicóloga, psicoterapeuta, advogada criminalista, especialista em direito civil e processual civil, especializanda em perícia criminal, poeta e estudante de teologia. Nasceu sob o signo de sagitário, tem um temperamento alegre, é espirituosa e adora animais.

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